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Galeria do Museu Etnográfico Extremeño – Olivenza- Spain

DO GOSTO DE CRIAR…

Carlos Godinho tem já uma carreira longa em termos cronológicos, mais de 30 anos a pintar, a comissariar exposições ou a escrever.

O peso do tempo não lhe retira contudo a frescura da inovação ou da criação. Se o suporte é sempre o mesmo, o espaço em branco de uma tela, e a escola artística também – o surrealismo – a inspiração é diversa. A mulher, as tradições alentejanas, a fé, o vinho, a janela como elemento arquitetónico que abre outras realidades, realidades estas que muitas vezes são apresentadas em situações inusitadas, e que por isso mesmo nos abrem a curiosidade à mundividência, que é rica, do Carlos Godinho.

Foquemo-nos no tema Alentejo e da sua importância na obra do autor. Há muito que se impõe no seu trabalho o património cultural desta região, seja o monumental, seja o imaterial. Esta presença é por vezes vezes imperceptível, pois ocorre num canto da tela, ou na abertura de uma janela (sempre tão presente na pintura de Carlos Godinho). Esta quase “não presença” leva-nos, não poucas vezes, a ignorar os elementos pintados, o que é um erro, pois a sua materialização é o que dá sentido e significado ao todo que constitui a obra obra.

Outras vezes, é claramente assumida como temática central. Veja-se, a título de exemplo, o conjunto de trabalhos que estiveram patentes numa exposição que foi, para mim, uma das mais interessantes e relevantes que decorreu em Estremoz, e que teve lugar em 2009, onde Carlos Godinho pintou poemas de António Simões, do livro “Minha Mãe Amassa o Pão”. Ou ainda, pinturas onde apresenta o mote do vinho, do cante alentejano, das caianças, entre outras temáticas.

Muito presente é a figuração etnográfica. Aliás, a representação antropomórfica real, ou idealizada, é um elemento dos mais relevantes da pintura do autor. Observam-se as ceifeiras, as padeiras, os membros do coral do cante, os pastores, enfim, uma multidão de alentejanos e alentejanas que nos conduzem ao Alentejo de antanho, ou melhor, a fabulações do Alentejo que foi, ou que gostaríamos que fosse e ainda fosse.

Finalmente, resta-me fazer votos que o autor reforce esta ligação ao Alentejo, à sua imaterialidade, trabalhando no âmbito do surrealismo, este património rico, vivo e diverso. Obrigado Carlos pela tua entrega e partilha.

Hugo Guerreiro (Director do Museu Municipal de Estremoz)

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